A Campânula de Vidro

Autor: Sylvia Plath

Ano: 1963

Número de páginas: 288

Editora: Assírio & Alvim

Classificação: 5/5

Sintese: "Sylvia Plath e a sua obra têm sido encaradas sob diferentes perspectivas, todas elas parcelares e quiçá erróneas. Há quem veja nela mártir romântica, autora de uma obra vivida intensamente até à exaustão e com ela se diluindo. Há quem veja nela percursora do feminismo, da revolta contra o universo normativo masculino. Há quem veja nela, o discurso político, pacifista, participando das manifestações ideológicas contra o sistema que atingirão o auge nos finais da década seguinte."

 

Critica:

A escrita da autora é  simples e direta como a de Bukowski, ainda que ao contrário deste que transforma a dor em sátira, Sylvia tem o poder de nos arrastar para o fundo do poço com ela. Identifiquei-me imediatamente com as particularidades da protagonista, uma jovem mulher ambiciosa, ansiosa, estranha.  Partilhamos o mesmo deleite pelos prazeres físicos como um banho a escaldar e uma boa refeição, ao mesmo tempo que somos cirurgicamente práticas e até um pouco frias na forma como enxergamos o mundo. Sobre o sexo masculino, ambas não suportarmos a sua hipocrisia, ainda que nos permitimamos a depositar sobre eles algumas expectativas de felicidade. 

 O livro inicia com a protagonista a referir o impacto que  a execução dos Rosenberg tinha tido em si mesma e em como não conseguia retirar satisfação  das suas conquistas. Encontrava-se em Nova Iorque  a estagiar numa popular revista de moda e tinha consciência que devia estar grata e  feliz. Ainda assim sentia um vazio e uma apatia crescentes. (Acredito que lhe faltava a futilidade necessária para sobreviver num mundo que naquela época era muito restrito para as mulheres, onde os padrões de comportamento limitados e a aparência esperada não lhe diziam nada. ) O futuro assombrava-a, a dificuldade na escolha de um só caminho na infinitude de possibilidades que existiam, tornavam-se demasiado para ela. A indecisão e o vazio tomaram finalmente conta de si, e começa a viver na inutilidade e no cansaço. É então  internada numa  clinica psiquiátrica onde é submetida a um tratamento de choques elétricos e  começa a planear o seu suicídio. 

 Tendo consciência ,antes da leitura, que a autora se suicidou um mês após a publicação do seu primeiro livro, naturalmente o mesmo teve outro impacto na própria leitura. Curiosamente  o motivo do seu suicidio foram as sucessivas traições do seu marido com Assia Wevill, que  acabou por se suicidar seis anos mais tarde.

Uma das coisas que mais me surpreendeu, foi a revolta da protagonista que já  naquela época  se sentia injustiçada pela desigualdade e discriminação sexual. Sylvia não teve medo de reivindicar os seus direitos, mostrando uma faceta feminista bem vincada. Por outro lado, este livro aborda temas controversos e intemporais como a depressão e o suicídio, de uma forma tão sincera e intima que nos faz sentir um certo desconforto.  O suicídio é-nos apresentado de uma forma maternal e reconfortante, como o trunfo que a protagonista tem cuidadosamente guardado para jogar na hora certa. Sendo realmente honesta, não aconselho a leitura a quem esteja a viver uma má fase, este livro tem a capacidade de mexer com coisas que só conseguimos distanciar de nós e ver com bom olho, se estivermos bem.

 

Recomendo!

 

 

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