Ham On Rye - Pão Com Fiambre

Autor: Charles Bukowski

Ano: 1982

Número de páginas: 360

Editora: Ulisseia

Classificação: 5/5

Síntese: “Ham On Rye- Pão com fiambre  é um romance quase autobiográfico do poeta e autor americano Charles Bukowski, escrito na primeira pessoa e cuja história segue a vida de Henry Chinaski, alter-ego do autor, durante os seus primeiros anos.”

Critica: De todos os livros que já li de Bukowski este foi o que me agradou mais. Permite-nos um melhor entendimento não só da sua obra, mas da sua vida, numa espécie de puzzle onde cada detalhe é uma justificação para o seu caráter. Numa narrativa fluida e elementar, as descrições das suas memórias de infância  são  extraordináriamente decoradas pelo pormenor e acidez sarcástica. Já a forma honesta e dura com que retrata a família disfuncional e a sua vida suja e miserável, são de um realismo e intensidade impactantes. 

Isolado por opção, cresceu a sofrer de bullying, de violência pelas mãos do próprio pai, e para piorar, começara a sofrer de um acne monstruoso que se apoderara do seu rosto, do seu corpo e da sua vida. Não tinha sorte com as mulheres. Com a Grande Depressao de 1929 não só a sua vida familiar piora , como a de quase todos os que o rodeiam. As hipotecas multiplicam-se. Assim como a fome, o desespero e a crueldade. 

Apesar de tudo o que o autor faz para o encobrir, em muitas situações é notável a sua  genorosidade e compaixão. A violência é uma constante ao longo deste livro porém ele não demonstra  ódio (exceto em relação ao pai) ou vingança. Na adolescência descobre os benefícios do álcool, e apaixona-se à primeira bebedeira. Percebe que esse será o grande amor da sua vida, e é também na adolescência que entende que sabe realmente escrever. Tal como no alcool, faz da escrita a sua bóia de salvação. 

Identifiquei-me com o gosto inato do protagonista em apreciar a solidão. Apesar da carência de afeto familiar e da dificuldade em interegir socialmente, Chinaski revela desde cedo uma inteligência interessante. Revela também  uma ingenuidade  nos assuntos de cariz sexual, bastante curiosa se considerarmos o seu percurso de vida e os seus hábitos sexuais na vida adulta. Neste livro percebemos que desde muito cedo Chinaski sentia-se diferente dos outros. Toda a sua realidade se assemelhava a um vazio, a uma inutilidade. Não entendia a ambição comodista em ser-se médico, cientista, pai, marido. Preferia ter uma vida excitante, apaixonada, ser um assaltante de bancos , quem sabe! Vivia numa ânsia pela liberdade, pela dignidade. Era ambicioso, mas sobretudo preguiçoso. O seu desejo medular era esconder-se. Passar anos estendido numa cama sem ter que fazer nada. Questionava-se se seria o único a perder todo aquele tempo a refletir sobre um futuro sem perspetivas. 

Adorei este livro. A sua critica social, mais do que engenhosa, é intemporal. Confesso que me revi nos apontamentos do autor e compreendi-os com uma facilidade assustadora. Este livro  é o retrato da fidelidade de Bukowski a si mesmo. É a prova de que as pessoas não mudam, só envelhecem. 

Recomendo!

 

 

 

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