Autor: Afonso Cruz

Ano: 2012

Número de páginas: 248

Editora: Alfaguara

Classificação: 5/5

Síntese: “Uma pequena aldeia alentejana transforma-se em Jerusalém graças ao amor de uma rapariga pela sua avó, cujo maior desejo é visitar a Terra Santa. Um professor paralelo a si mesmo, uma inglesa que dorme dentro de uma baleia, uma rapariga que lê westerns e crê que a sua mãe foi substituída pela própria Virgem Maria, são algumas das personagens que compõem uma história comovente e irónica sobre a capacidade de transformação do ser humano e sobre as coisas fundamentais da vida: o amor, o sacrifício, e a cerveja.”

Critica: Há um só motivo óbvio para que Afonso Cruz tenha sido distinguido com o Prémio da União Europeia para Literatura, e vencido com esta obra a categoria Livro Português do Ano nos Prémios Time Out Lisboa, e prende-se com uma pequena palavra muitas vezes esquecida nos dias de hoje: qualidade. Desde a Aparição de Vergílio Ferreira que não lia um livro português tão bom. Na verdade, esta comparação não  é assente apenas em termos de qualidade, mas da própria semelhança em muitos aspetos à Aparição. A filosofia, o existencialismo, o naturalismo literário, e claro, o palco de fundo,o velho cemitério de existências, o querido Alentejo.

Numa escrita detalhada e realista do que é o dia-a-dia de um Portugal do interior, gasto, forte e profundamente católico, Rosa, a protagonista, é uma jovem que vive só com a avó doente. As personagens que se cruzam no seu caminho, facilmente passariam por pessoas que já se cruzaram na nossa vida, e ainda assim o autor teve a audácia de lhes conceder uma atmosfera mágica, cheia de possibilidades. A religião, a ciência, a velhice e a morte são tratadas com a objetividade que só a realidade faz doer. Repleto de metáforas e de uma sensibilidade e sabedoria impressionantes, este livro conduziu-me para o passado, para a infância e a ternura das coisas perdidas.

Sobre o fim do livro: encerra como começa. Com o poder de nos marcar e perseguir durante anos.

Leiam. A sério.