Maestra

 

Autor:  L.S.Hilton

Ano: 2016

Número de páginas: 304 

Editora: Presença

Classificação: 3/5

Síntese: “Durante o dia, Judith Rashleigh trabalha numa prestigiada leiloeira de Londres, ambiciona uma carreira no mundo da arte e, apesar das origens humildes, tornou-se numa mulher sofisticada. Para fazer face às despesas, aceita trabalhar durante a noite como acompanhante num dos bares da capital. Mas depressa o sonho de uma vida luxuosa se desmorona. Após um acontecimento que marca o seu destino, Judith envereda por um caminho violento e tortuoso. Assistimos à ascensão de uma mulher à margem da lei e da moral, segura do seu rumo. Mais do que possível, será a redenção desejável?”

 
Critica: Judith Rashleigh trabalha numa  leiloeira de Londres mas sente que devia viver a vida luxuosa e ser a mulher sofisticada que acha ser. Por mero acaso, acaba a trabalhar como acompanhante de luxo num bar. Quando tudo desmorona,  aquilo que podia ter acabado com a sua vida é o princípio da vida com que sempre sonhou e Judith é capaz de absolutamente tudo para o conseguir. A narrativa assume um tom óbvio de crítica social na primeira pessoa, sobre a forma como nos vemos e como queremos que os outros nos vejam. A aceitação e o reconhecimento social assentes na futilidade, transforma-se no pilar da determinação da protagonista, que após uma infância infeliz, aos vinte sete anos torna-se numa especialista em arte que não obtém o reconhecimento e a credibilidade que tanto lutou para ter.

 Devo confessar que nas primeiras páginas deste livro invejei a ambição, a coragem e o calculismo da protagonista, coisa que durou muito pouco. Neste livro voltamos a um período pré-histórico onde as mulheres não passam de um acessório/naco de carne, que para roubarem um bocadinho do poder dos homens usam a manipulação e a sedução fácil através do sexo . É difícil que algo me consiga ferir a suscetibilidade, mas a indiferença da protagonista para com as pessoas e os valores em detrimento do dinheiro e do sucesso perturbou-me. Perturbou-me a possibilidade da existência de mulheres e homens assim, e ainda mais o fato de estar inconscientemente a assumir que a protagonista fora inspirada na própria autora.

Tal como na leitura do inesquecível Pintassilgo da Dona Tartt, as constantes referências ao mercado e à construção do valor artístico não só contribuiram para alargar o meu conhecimento do mundo da arte, como me fizeram realmente interessar pela pintura dos grandes mestres do Renascimento. A pintora italiana Artemisia é sem dúvida uma das heroínas da protagonista que transcreve da sua obra, a determinação, a frieza, a violência e até a crueldade.

Tenho que assumir que o final do livro surpreendeu-me. Ok, surpreendeu pela negativa, mas ainda assim há que  reconhecer o mérito da surpresa. Não sou de me arrepender por nenhuma leitura, mas não lhe consigo reconhecer o valor de acontecimento literário do ano, nem longe nem perto. De qualquer forma, leiam e tirem as vossas próprias conclusões.