Mulheres

 

Autor: Charles Bukowski

Ano: 2001

Número de páginas: 292

Editora: Dom Quixote

Classificação: 4/5

Síntese: “Num ambiente repleto de álcool e sexo, somos transportados a uma visão insuportavelmente realista as vivências do escritor, (poeta e bebedor compulsivo) conjuga a sua prepotência junto das mulheres com a fragilidade que só elas podem compensar. A literatura e as tertúlias, numa perspetiva muito próxima do imaginário da beat generation, são o motor desta história.”

Critica: Apesar de nunca ter lido nada (que me lembre) deste escritor, há muito que leio sobre a sua obra e o seu percurso. Quando abri este livro contava com uma escrita franca, direta e amarga. Logo na primeira página o autor presenteia-nos com uma reflexão sobre a sua vida sexual. E apresenta-nos Lídia e com ela, uma linguagem obscena, feita de frases curtas, e excessivamente gráfica para mim, a circunscrever o repugnante.

O protagonista do livro é Henry Chinasky , (o alterego do escritor), um escritor alcoólico e solitário de 50 anos. Henry fala na primeira pessoa sobre o seu dia a dia, mas sobretudo sobre as suas relações com mulheres... Os seus relacionamentos são curtos, multiplos, e acabam (quase sempre) em desgraça. 

Não sei o que me impressionou mais, a quantidade de álcool que a personagem emborca, a regularidade com que vomita, a abundância de mulheres dispostas a ceder-lhe o seu corpo, ou a desilusão quando por curiosidade,fui ver várias entrevistas que o escritor deu, e apreendo que talvez, a sua arte e o seu gênio, não sejam mais do que os reflexos de  um bêbado com uma infância difícil. Fiquei com a impressão (não me matem por o que vou dizer) que faltava conteúdo, sensibilidade, profundidade, maturidade a este escritor. Talvez só o encontrasse no álcool e fosse por isso mesmo que fez dele o seu mais fiel companheiro.     Não  consegui entender a falta de paixão pela vida, o olho quase fechado, a existência adormecida, e o copo omnipresente que lhe traz o sorriso trocista mais falso do mundo.Não entendi a necessidade em preencher uma conversa banal com obscenidades a ponto de fazer-me sentir desconfortável. E atenção. Não me considero, nem de perto nem de longe, uma pessoa muito sensível a temas tabú ou o que seja, mas realmente não estava preparada para  o que ia encontrar quando abri o livro. Mais de oitenta por cento do que li, são relações sexuais. E a forma como ele as descreve, a forma como trata as mulheres, nem sei se possa ser chamado de sexismo, ou falta de humanismo.

No entanto, a verdade é que qualquer um se identifica com o realismo da escrita do autor. E é nos pormenores que nos encontramos e encantamos. Acima de tudo identifico na voz deste escritor a rouquidão de um medo partilhado por todos os que compreendem as suas palavras. Afinal, para quem prestou atenção, é fácil ver nele um rapazinho assustado num mundo confuso e perturbado. Ele próprio confessa-se infantil por não saber retribuir-se a quem mostra ter afeto por ele. Justifica-o por não ter sido amado enquanto criança. Por outro lado, admiro e contesto a repulsa do escritor, pela abominação pela cultura, pelo intelectualismo, e principalmente pelos snobes.

Enfim, se por um lado, numa primeira vista à sua escrita, esta nos aparenta ser vulgar, infantil e intensionalmente chocante, ao analisarmos com mais profundidade, encontramos uma sabedoria bem escondida na polémica e no exagero premeditado. Se comecei por decidir odiar este escritor, enganei-me redondamente. Provocou-me uma série de sensações de amor/ódio como nenhum outro antes o fizera, e sobretudo uma imensa curiosidade pelas suas obras.

Acredito que o desgraçado está a rir-se que nem um perdido no tumulo a pensar “ se eu fosse vivo, eras mais uma!”

Está visto que vou ter de ler mais livros do raio do bêbado!

E pronto, resta-me dizer que aconselho este livro. Muito. Muito, Muito.