Os enamoramentos

 
 

Título: Os enamoramentos

Autor: Javier Marías

Ano: 2012

Número de páginas: 375

Classificação: 4/5

 

Sinopse: María Dolz, uma solitária editora de livros, admira à distância, todas as manhãs, aquele que lhe parece ser o 'casal perfeito' - o empresário Miguel Desvern e sua bela esposa Luisa. Esse ritual quotidiano permite-lhe acreditar na existência do amor e enfrentar o seu dia de trabalho. Mas um dia Desvern é morto por um sem abrigo mentalmente perturbado e María se aproxima da viúva para conhecer melhor a sua história. Passa então de espectadora a personagem, vendo-se cada vez mais envolvida numa história em que nada é o que parecia ser, e em que cada afeto pode se converter de amor a ódio, de amizade a traição, de  compaixão a egoísmo.

 

Critica: Mais um livro que suprimi em dois dias.

 Em primeiro lugar, a capa do livro e  o título, levam-nos a considerar que este se resume à história de um “enamoramento”. A verdade é que o enamoramento é apenas uma das maravilhosas peças que fazem deste livro um puzzle maravilhoso de encaixar. O livro começa com a narradora, María Dolz , a descrever o casal apaixonado , que gosta de observar no café que frequenta diariamente. Devido ao assassinato bárbaro inexplicável de Miguel, María decide abordar a sua esposa Luiza e dar-lhe os seus sentimentos, no entanto, acaba por passar uma tarde na casa do casal, onde a desolada Luiza, desabafa com ela. Lá, conhece Javier Díaz-Varela, o melhor amigo de Miguel, por quem María se sente atraída à primeira vista, e acaba por se apaixonar. 

A partir de uma conversa que María ouviu sem querer, constata que foi Javier quem mandou assassinar o amigo, no entanto, é este que a confronta, confessando-lhe o assassinato, e justificando-o por sua vez, com um pedido do amigo, agora morto.

A história, evidencia as oscilações da subjetividade dos diálogos entre as personagens, e os estados de espirito da narradora. Paralelamente, o tema que atravessa todo o romance é , sem dúvida, o incómodo que são os mortos para os que ainda vivem, e como a sua morte poderá ser a solução para que vivam plenamente. 

Vencedor do prémio literário europeu, e eleito pela imprensa espanhola como melhor livro do ano, este é um daqueles livros que realmente recomendo. Javier Marías surpreendeu-me positivamente com as suas 375 páginas repletas de detalhes espantosos,  não só sobre a caracterização minuciosa dos personagens e do meio envolvente, mas também no relato das pequenas, grandes questões, que nos atravessam no dia-a-dia. 

Uma escrita que apesar de acessível, é também peculiar, sobrepondo os diálogos das personagens com os longos monólogos da narradora.