Terra Sonâmbula

 

Autor: Mia Couto

Ano: 1992

Número de páginas: 336

Editora: Editorial Caminho

Classificação:4 /5

Síntese: “Primeiro romance de Mia Couto, Terra Sonâmbula tem como pano de fundo os tempos da guerra em Moçambique, da qual traça um quadro de um realismo forte e brutal. Dentro deste cenário de pesadelo movimentam-se personagens de uma profunda humanidade, por vezes com uma dimensão mágica e mítica, todos vagueando pela terra destroçada, entre o desespero mais pungente e uma esperança que se recusa a morrer."

 

 

Critica: 

O livro retrata a história de um velho de nome Tuahir e um rapaz apelidado de Muidinga, que deambulam fugidos da guerra, à procura de um refúgio. Ao descobrirem um lugar seguro para passar a noite, um autocarro incendiado e repleto de cadáveres, recuperam uma mala que entre outras coisas, guarda uma série de cadernos. Nesses cadernos, repousam as memórias de vida de kindzum, uma criança testemunha da terrível guerra no seu país, e de toda a destruição e sofrimento que presenciou ao longo do tempo. É através da sua leitura, que Muidinga tenta escapar à realidade diária em que vive, procurando decifrar a verdadeira identidade de Kindzu e o seu destino atual.  Assim a narrativa é intercalada em capitulos onde acompanhamos o percurso do miúdo e do velho, e descobrimos mais sobre a vida e o mundo de Kindzu.

Duas foram as palavras que mais  marcaram esta leitura: fome e morte. Claro que, tristemente vestidas de guerra, medo, misticismo e esperança.

Mia Couto mostra-nos a dureza das tradições da cultura daquele povo. Simbólicas,rígidas, e muitas vezes difíceis de compreender. Fez-me realmente muita confusão o facto das crenças serem  levadas de uma forma tão séria, que o sacrifício de um recém nascido da família é visto como uma necessidade, uma forma de bondade. Por outro lado, a relação que estes mantêm com a natureza é-me familiar e muito querida. A adoração, o respeito e a intimidade que nutrem pela terra, o sol e a água, são retratados de forma contínua no livro. Mas, se o retrato social é de uma crueza que impressiona, o diálogo entre as personagens é-o ainda mais.

A escrita do autor é bastante singular e cruza construções metafóricas em formato poético, com a recriação da língua portuguesa influenciada pela moçambicana. Logo nas primeiras páginas tive a confirmação que estava perante um dos grandes livros da atualidade. 

Este é um daqueles livros que tem o poder de nos entorpecer os sentidos e nos apertar o coração. Primeiro, porque a realidade da guerra em Moçambique não é assim tão longínqua, depois pelos dias negros que se vivem hoje por todo o mundo.

Devo confessar que o final do livro foi bastante confuso para mim..  Tive sérias dificuldades em separar a realidade do sonho e em entender o que terá realmente acontecido.

Ainda assim, este é um livro  marcante que não deve ser esquecido. Recomendo!

 

 

 

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